Propriedade particular

A curiosidade, a mania da fofoca, a síndrome da xeretisse e a falta de educação me deixam embasbacada....
Acredito que nunca mais será possível respirar sem ser interrogada, questionada, olhada de atravessado e invadida.
Onde está a compostura, a cerca, a polidez, o respeito, a placa de contramão, a trava e o freio?
Precisarei eu trancar os portões, fechar a cara, desligar o telefone, apagar a luz, esvaziar a piscina, cruzar os braços, amarrar os sapatos e sumir?
Será que ninguém é capaz de cuidar do próprio jardim, da própria vida, do próprio umbigo e do próprio rabo?
Mas não, meu senhor!!! É mais fácil acelerar o verbo, atropelar a barreira, invadir a privacidade e conturbar minha propriedade no único dia em que eu consigo falar comigo sem marcar hora, sem esperar na fila e sem pegar senha.
Por favor, calem-se e retirem-se todos, levem embora tudo o que trouxeram, inclusive suas carcaças corpóreas, suas mentes vazias, seus espíritos pobres. Privem-me completamente de suas risadas falsas, suas declarações inconsistentes, suas hipocrisias arraigadas, suas felicidades mórbidas.
Meu fígado agradece!

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