Espremido

vi
não senti
houve um sim
ou talvez não
trocaram um oi
tão próximos
quase tocaram
se multidão

II

estória ou história

"quando escrevo, repito o que já vivi antes.
e para estas duas vidas,
um léxico só não é suficiente."
joão guimarães rosa

Insistimos sempre em nomear tudo o que conhecemos: o movimento do som, a cor dos acontecimentos, o instinto dos seres, o singular e o plural de cada sentimento. Nada escapa aos nossos rótulos, queremos catalogar a vida: do passado sentimos saudade, do presente sentimos o gosto e do futuro sentimos medo.

Parece que tudo que nos cerca precisa ter seu nome de batismo, assim nos sentimos seguros, nos conhecemos e sabemos falar sobre as coisas; das menos explicáveis, que precisamos aceitar como são, até as mais questionáveis, que nos invade e carrega para outros planos.

E questionamos tudo, sempre.

Você consegue contar uma história? De quantos ângulos ela é feita? Quantas escolhas cabem dentro de uma história? Quantos momentos, sentimentos e vontades se vivem para construí-la? Quanto tempo dura as vidas de uma história? O que é uma história afinal?

É simplista demais dizer que uma história é apenas uma narração, uma junção de termos dispostos em verso ou prosa, fictícios ou não, cujo objetivo seria divertir ou mesmo instruir quem a lê por curiosidade ou paixão.

Uma história é composta por episódios que ganham forma, cor e emoção à medida que é vivida ou que é lembrada. Sim, revive-se intensamente a mesma história cada vez que se lembra dela. E a cada nova história que dela se forma há um novo horizonte a ser explorado, sentido e contado.

A história é viva e se inscreve junto com cada movimento do mundo e com o sentir das palavras, com o tocar das coisas. A história tem poder de romper-se, expandir-se e expressar-se sem seguir padrão algum. Ela avança e retrocede sem que nada se perca. Ela se transporta para o futuro no mesmo momento em que escreve o presente e relembra o passado.

O passado contado aqui não é um passado empoeirado e distante, tampouco velho. Nas linhas desta história o que é dividido tem sabor de agora, de novidade que surpreende. Um passado que renova, sustenta e faz ascender o futuro novamente.

Nessa correnteza, minha história se une à sua história e a cada História nossa que começa a surgir, um pouco de nós é revelado.

Todas as perguntas, respostas e histórias nascem com o passar das horas de cada um. Em apenas um segundo e um sorriso a primeira de todas as Histórias surge. E vem sem intenção de ser grandiosa, mas sabe-se que sempre que um ou outro fato causar saudade a memória transformará o mais simples acontecimento em algo de grande beleza.

Para te contar todas as estórias e histórias, eu preciso vestir-me sentir-me na tua pele, estar no teu mundo, entrar no que você sente e vasculhar seu ser porque assim conseguirei te inscrever na parte desta nossa História inteira.

vazio agudo

faltaram o homem e seu violão.

Dito e feito

Contei para todos que meu Santo Antonio está de ponta cabeça e ele vai ficar lá até eu decidir. Até eu parar de bancar mais uma garota desesperada que ainda vai encontrar o príncipe encantado. Até eu deixar de acreditar que simpatias dão certo. Ou então, até ele se resolver. Fui educada até agora.

I

Um dia alguém me desafiou a escrever uma história. No inicio eu ri, achei bobagem mas a conversa foi tão séria que até me senti intimidada. Me deram os fatos, a cena, os personagens e a liberdade de decidir o rumo que tudo ia tomar. Tive muitas idéias, me encontrei na verdade de muitas linhas mas escrevi bem poucas páginas, sofri uma dor estranha e fui me perdendo na imagem da história que eu criava (vivia?). Depois de quase um ano, reli os rascunhos que ficaram para tras, tive necessidade de expurgar o que ainda me incomodava para que assim, livremente, eu pudesse confirmar que TUDO tem seu fim.



a memória e a história
Estou a par dos fatos, sou capaz de contá-los, conheço todos os personagens, desnudo suas idéias e seus sentimentos antes mesmo que sejam concebidos, sei o que se esconde em cada entrelinha e as tantas emoções que aqui são expressas.

Posso escrever-me sem um
a forma física porque existo, me construo como a força invisível que move toda a existência adiante do agora.

Faço-me música, parábola, conto de fadas e poesia. Propago-me na voz que declama, no próximo parágrafo da conversa, no pensamento silenciado.

Não me encerro em limitações ou caprichos da língua, eu sou um universo infinito de escolhas. Estou em todas as letras que imprimem a página de cada um, sem retroceder. Sou palavra por palavra concretando uma ponte sobre as incertezas da vida.


Sou detalhe de tudo em você e estou acima do que te rodeia e te insere no mundo. Crio, faço-me real, marco-me da sua capacidade de viver e espaço-me dentro da imensidão da sua memória.


Mesmo que o tempo mude, que eventos futuros prometam ser mais vivos desbotando o que hoje existe, dentro da memória eu me conservo intocável, no coração sou inesquecível, na porção mais intensa e pura de você eu crio asas e na sua alma eternizo-me.


Nesta hora, serei a verdadeira História que se construiu junto através dos dias unidos de dois em um.