Um dia eu escrevo um livro mesmo que eu não tenha sobrenome
de poeta...

fim da página

Ele inventou o mundo e a pôs lá dentro dele perfeita a morar e Ela sentiu-se perfeita dentro da história que passou anos a sonhar. Amada, Ela passou sentimentos seus a Ele mostrar e Ele amado, sentiu-se confortável e construiu novos cômodos para Ela espalhar.

Com mais espaço a espaçar, Ela foi escrevendo pelas paredes e o céu dele de colorido passou a pintar. Com um céu colorido, Ele escrito em tantas paredes ia de encontro aos anseios dela que passou também ansiar.

Trocavam sensações, concebiam palavras para diminuir a distância só para ela deixar de distanciar. Para Ele, uma carta a nunca chegar e para Ela, um choro ao telefone a se deparar. Ele ia desenhando laços entre os dois e Ela ia se deixando amarrar.

Ele prometia que aquilo tudo nunca ia acabar. Ela acreditava que aquilo tudo só estava a começar. Feliz no mundo inventado dos dois estava a reciprocidade a reinar. Fizeram viagens, filhos e livros juntos, sem sair do lugar.

Até que ninguém sabe se foi de dia ou de noite, se foi junto ou separado que eles sentiram algo mudar.

Ela olhou para Ele com tudo a questionar. Ele olhou para Ela, parecia nada notar. Ela balançou a cabeça tentando aquele sentimento estranho dissipar. Ele já sabia que sua cabeça estava em um outro mundo a desbravar. Pensando que tudo era bobeira, Ela decidiu também por ele encontrar. Pensando na bobeira de tantas decisões, Ele se pôs a caminho dela chegar.

Olho no olho, olhar. Pele com pele, encostar. Horas passaram a voar. Confissões, abraços e promessas em um quarto estranho a tatuar.

Meio coração dela, algum choro engolido, uma carta escondida e o mapa de volta para sua casa Ele estava a levar. Meio coração dele, muito choro disfarçado, uma dedicatória de seis ou sete linhas e o caminho de sua casa Ela refaz com tanta palavra por falar.

Dai em diante uma sucessão de desencontros a desencontrar. Mais ainda Ele ia se ausentar. Mais ainda Ela ia procurar. Tentaram em vão não pensar no fim eminente que estavam a enxergar.

Tanta coisa Ela acumulou até Ele voltar: outra saudade. Tanta coisa Ele trouxe debaixo do braço sem Ela carregar: outros planos. Ele redesenhou o espaço, excluiu janelas, trocou fotos, esqueceu palavras e pôs se a cor da parede trocar. Ela no espaço recuado mil perguntas a perguntar, mil hipóteses a esquadrinhar e mil certezas a confirmar.

Tudo mudo. Todo mundo.

Tudo muda, é de se esperar.

Ele continua movendo sem nenhuma resposta enviar, seus compromissos que o fazem dela se esgueirar. Ela continua imóvel com uma ou outra palavra a ensaiar, a fala mal sai dela sem embargar.

Ele foi outro mundo criar. Ela sentiu o ar lhe faltar.

O silêncio recíproco fez o amor inventado calar e a história dos dois no fim da página terminar.

sobram memórias aqui, ali, dentro de cada um separado, em todo lugar.

Um comentário:

Mariana Guerra disse...

Um dia você faz Caldeirani virar nome de poeta.
Apesar da história xD

Muito boooooom *-*
Eu acho que quando eu estudar vou ser boa assim :D
Hahaha

Beeeijos, teacher