Vão da memória

Eu sei que não vou lembrar o jeito certo de sentir. Talvez eu nem consiga esquecer. Tanto tempo já passou que a impressão que tenho é que ainda consigo ver os mesmos passos na rua reta. Um a um. Às vezes eu fitava o céu, tentando descobrir Deus sorrindo pra mim. Às vezes eram os prédios que tinham a minha atenção. Todos alinhados, testemunhas da minha necessidade estranha de estar perto de ti.
Seguravas-me pelos braços, pelas mãos, pela cintura e eu tentava emparelhar meus passos aos teus. Um a um. Ali perto de ti, naquele mundo tão diferente, me sentia em casa. Fui descobrindo que aquele dia cinza iria refletir em cores um dia importante da minha vida. De seqüencias pretas e brancas eu encontrei um coração no ladrilho do chão, à frente uma borboleta, mais à frente uma letra perdida e outra adiante... parecia que eu ia re-construir o mundo com ladrilhos.Era o mundo novo, colorido na calçada.
O riso feliz de criança, que descobre uma coisa, sem perceber que todo mundo já sabia, apareceu. Talvez só eu saiba a intensidade de todos aqueles passos. Todos eles. Cada um. Um a um. Talvez só eu entenda também que naquele dia, um coração se achou e um outro se perdeu. O meu, é igual àquele da rua reta, daquele dia, um coração de ladrilho dobrado no papel... Talvez jamais se esqueça...


Nas ruas de outono, os meus passos vão ficar
Ana Carolina

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