Passagem do tempo

Eu acordei assim, de estalo, querendo viver o dia como se fosse o último.
Estava com medo de perceber onde estava, ainda de olhos fechados sentia o frenético movimento das idéias dentro da minha cabeça. Queriam organizar tudo o que está bagunçado dentro da minha vida. Pensei em tantas pessoas especiais, em tantos carinhos trocados, em tantas coisas mal ditas e em outras tantas não ditas.
Lembrei de vários episódios antagônicos e de outros que poderiam ter sido evitados ou inventados. Quis pedir uma meia dúzia de desculpas. Fiz uma lista com nomes e números de pessoas que gostaria de ligar para dizer um "oi como tem passado?", um "oi eu estou sentindo saudades suas", um "oi que hora mais estranha para te ligar, não acha?".
Recitei no silêncio do quarto trechos de músicas que me fazem ser gente. Pedaços de textos que nunca terminei. E um título tímido para abraçar os meus tantos pensamentos. Era tanta palavra em outras palavras. Tudo alí.
Eu sentia tudo estranho. Na gaveta do criado-mudo estava o caderno com linhas, companheiro que organiza meus lampejos no meio da noite, e um monte de frases de efeito dentro de coisas que eu venho escrevendo sem muito entender. Há entendimento na vida?
Li o trecho mais dolorido que já havia lido no edital da minha revista favorita para ver o que doía em mim. Reli meus trechos mais doloridos para ter certeza que eu existira. E eu estava ali, viva e com uma crise de espirros causada pela poeira das memórias remexidas.
Achei histórias escritas por outras pessoas, poesias leves construídas por blocos maciços de sentimento. Me vi refletida em grandes porções de outros seres humanos, dilacerada pela verdade de que somos juntos. Tudo? Verdade?
Percebi que eu tenho tanto para mudar e que dez dias me separam das férias do fim de ano. Fiz resoluções para dois mil e nove antes da hora. Senti meu coração disparar em alguns momentos.
Que futuro eu terei?
Como se quisesse escapar forcei a janela e o mundo abriu-se. Tudo existia espalhado do lado de fora e do lado de dentro. Meu coração batia no dedão do pé, nos fios de cabelo, nos olhos inchados de quem não acordou direito ainda. Senti minhã mão úmida e fria. Senti minhas pernas dormentes. Senti que precisava falar com alguém. Senti que não sabia o que ia fazer.
Sentei.
Silêncio.
Só.

Meus planos esperam coragem e sabedoria para existirem
antes que esse meu futuro seja o último.

Um comentário:

Anônimo disse...

Vida.