água de banhar

Ela acordou atrasada. Pronto. Era o suficiente para deixar o seu dia de ponta cabeça. Pulou da cama se enroscando nas cobertas e no pijama que ia arrancando até o banheiro. Abriu o registro do chuveiro na expectativa de acordar mais decentemente. Nada além de água fria. Só podia ser um pesadelo. Que merda. (O palavrão? Nem o evitou a essa altura).
Correu até a cozinha com a cara amassada e um frio que a toalha não cessava. Resmungou. A mãe decobriu uma solução rápida. Jamais!! Ela se espantou. Jamais!!
A necessidade venceu-na. Vestiu-se, atravessou o portão, cruzou a rua e entrou na casa do vizinho.
Ah o Vizinho...
Implorou para não topar com ele tomando café na cozinha enquanto ela invadia sua casa com a devida permissão.
Primeira porta à esquerda, primeira... à esquerda. Entrou. Parecia não ter mais ar dentro do peito. Trancou-se e ligou o chuveiro.
Lá estava ela, de repente dona dos segredos do vizinho. Conheceu seu perfume e seu creme de barbear. Era quase um poder. Nesse instante sentiu-se a própria presa em território inimigo. Nua, sem defesa. Enfiou-se debaixo do chuveiro e deixou o vapor criar situações cômicas iguais a que vivia. Riu de si.
Da forma como entrou ela teria que sair de lá. Apressou-se. Vestiu-se. Destrancou a porta, era só sair, agradecer e voltar pra casa num estalo. Respirou fundo e rumou pelo corredor.
Silêncio.
Topou com ele em pé no canto da cozinha com cara de quem esperava pacientemente por ela.

- Oi bom dia, quer um café?
- Não obrigada, er... preciso ir estou atrasada.
- Ah que pena.
- Meu chuveiro .. er...
- Você pode voltar amanhã se precisar...

Sorriu totalmente sem jeito, despediu-se e foi andando em direção ao portão. Deixou no ar o cheiro do seu xampu misturado com a vontade de que os chuveiros jamais tivessem conserto.

Um comentário:

Meeestre Will disse...

pois não tem resistência que aguente!