IV

“cada um cumpre o destino ela dormindo encantada
ele buscando-a sem tino pelo processo divino
que faz existir a estrada.”
f. pessoa


Segredos e Sensações

Ele sentiu vontade de saber mais sobre ela, que marcas trazia no corpo, que vontades guardava para realizar, o que a fazia ser quem é. Ela queria desviar-se de todas as curiosidades dele, queria silenciar tudo o que ele queria fazer verbo.

Em pouco tempo combinam as diferenças, igualam os pensamentos e fazem-se presentes na vida de cada um, em dias longos e por longas conversas.

Juntos, ele assume coisas que jamais assumiria para alguém, ela admite muito de suas faltas e enganos, de uma maneira estranha eles confiam desde o primeiro instante. Falam de tantos assuntos, criam códigos secretos e trocam pedaços de si em palavras diagonais e retas traçando um caminho simbólico dentro da História.

Ele falava sincero e ria. Ria da própria sinceridade para poder disfarçar e fazê-la prestar atenção em outra coisa. Ela continuava atenta em cada gesto que ele tentava em riso distrair.

Assim, com esse jeito de quem diz tantas verdades brincando ele foi contando seus contos em linhas contínuas, sempre ao alcance dos olhos indecisos dela. Ele só não imaginava que ela diria, claro e preciso, o que ele pensava tão intimamente.

Ler o que ela escrevia sobre ele com tanta propriedade fazia seu corpo arrepiar tantas vezes. Ela enxerga através, além e aquém tempo.

Ausente do mundo agitado ele a olhava tantas vezes, seus pensamentos nela iam e viam, costurando-se entre as coisas do dia que ele tinha por comprometimento fazer. E ela sempre estava lá, sua marca em cada letra escrita, seu jeito em cada palavra dita.

Marcas inegáveis em tudo.

Tudo o que dela lia ou ouvia era como despertar todos os vãos em si que pudessem senti-la, era esperar a cada segundo uma emoção nova e completa que o faria mais e mais envolvido por aquela força estranha que dela vinha.

Perto dela, rir era mais fácil e sobreviver era menos árduo, sua vida ia se reestruturando num ângulo mais simples. Ele se sentia mais ativo e com inúmeras vontades estalando dentro do peito. Ele se perdia e se encontrava na presença dela e não entendia como é que ela poderia saber disso tudo.

Ele continua a sorrir sempre, ela descobre um mundo inteiro cheio de coisas que só existem para os dois. Tudo repleto de inúmeros sentidos, tantas emoções, muitos segredos e uma infinidade de sensações ímpares.

Ela sabe e sente, de raso a profundo, que dentro de cada um existe um tanto do outro. Imaginá-lo sorrindo é apenas reflexo do que ela, no mesmo instante, faz; confirmar os mesmos pensamentos é sentir-se em harmonia; entender que alguns segundos de silêncio preenchem o espaço do que é difícil de expressar.

Eles são reciprocidade intensa.